Certa vez perdi o homem da
minha vida. Confesso, com todo o drama que exige uma boa fossa, que meu mundo
caiu. Chorei vinte e quatro horas seguidas, levantei e fiz o que tinha que ser
feito: seguir em frente. Claro, que por algum tempo não fui feliz. Mas percebi,
como numa tragada de inspiração, que o homem da minha vida era completamente
substituível. De lá pra cá, perdi três homens da minha vida e continuo de pé –
e sorrindo, se quer saber.
Perdi também um grande amigo.
Ele não morreu para o mundo, mas pra mim, sim. Descobri uma traição daquelas
que não se faz com melhores amigos. Encontrei muitos outros melhores amigos –
alguns me traíram, alguns me consolaram, e todos foram embora. E outros sempre
chegaram.
Noutro episódio triste da vida,
perdi dois empregos – que tinha concomitantemente – na mesma semana. A crise
veio e não havia mais como pagar aos colunistas. “Ok.” Chorei por umas horas,
refiz o orçamento e me ajustei, novamente, ao caos da vida como pude. Encontrei
outros três empregos nos meses seguintes. Alguns me fizeram feliz, outros não,
e a todos perdi. E outros sempre chegaram.
A única certeza que temos na
vida é de que, vez ou outra, perderemos. As pessoas vão embora, as crises vão
chegar, nossos amigos vão nos trair. As perdas são essa realidade cruel que
precisamos aceitar – e tirar proveito, sempre que possível.
O barato disso tudo é que,
sempre que perdemos algo importante, temos a oportunidade de enxergar com uma
clareza que só a tristeza proporciona as tantas outras coisas importantes que ainda
temos. E de perceber, com a perspicácia que só as crises nos trazem, as outras
tantas coisas importantes que chegarão. As perdas têm a indispensável função de
nos fazer renascer. Cuidar do que ainda temos e lutar pelo que precisamos.
Não tenho piedade dos bons
perdedores – mas aqueles que ganham sempre, coitados, não têm a chance de
enxergarem-se tais quais são: humanos, errantes, passíveis de terríveis perdas
e, sobretudo, capazes de reconstruir qualquer coisa que seja. E de deixar
partir o que não lhes pertence.
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